segunda-feira, 5 de junho de 2017

Nós poetas

Nós homens,
Paridos para manter a busca pelo inalcançável.
Sofridos guris.
Que tão cedo neste mundo,
Já lhes retiram as tetas que mamavam.
Pobres coitados!

E essas crianças,
Que não tarda e já lhes retiram do barro com seus pés descalços.
E botam na frente das telinhas:
O homem que voa, o menino que não envelhece,
Ao infinito e além, para todo sempre.
Pobres diabos!

E esses jovens
- Perdidos entre o caos e a ordem -
Nesse tesão inesgotável e tão reprimido.
Se antes cuspia e gozava na cara da verdade,
Hoje cortam suas pulsões pelas raízes sanguíneas.
Pobres cortados!

E esses maduros,
Que se dizem prontos pra vida.
Já são capazes de esconder seus temores
Em seus discursos políticos, utopias, ansiolíticos ou cursos superiores.
Só não percebem que as rugas em tuas cascas não negam, mas revelam o fim do seu doce.
Podres maduros!

E esses velhos - salvo os gagás -
Que sufocam as novas vidas com sua amargura transvestida de sabedoria e razão,
E acordam às 6 procurando culpados,
E dormem às 6 pensando serem eles mesmos os culpados da suposta podridão.
Te ensinarão mil e uma maneiras para se viver, nenhuma para morrer.
Velhos cagões!

E esses poetas,
Que na calada da noite - Enquanto dormem coitados, diabos, cortados, podres e cagões -
Condensando em seus versos os resultados das relações diárias das contradições,
Pensam que estarão livres das disputas das forças em questão.
Ilusão presenteada pela complexidade dos afetos, mas que se apaga noutro dia numa nova e velha missão:
De serem atravessados por todos e na nova calada da noite reunir novamente as novas dores deste mundão.

Eu poeta, coitado, diabo, cortado, podre e cagão!

(Marcus P. M. Matias)

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