domingo, 27 de maio de 2018

Cidadão de bem

Nem político, nem polícia, nem ladrão e muito, muito menos a serpente. Bixo mais perigoso que existe é o cidadão de bem.

Em seu discurso, ele diz não se misturar com a gentalha. Não é capaz de reconhecer em si traços do que ele tanto critica no outro. Ele também não consegue compreender muito esse outro - que até parece falar outra língua - e também por isso, o encapsula em suas perigosas generalizações: imoral, irracional, dentre outros, o satânico.

Ele, o homem de bem, se sente puro, separado de todo mal. Uma explicação para a desgraça alheia? Ele diria livre arbítrio, próprios méritos.

Canalha!

Mas calma, ele não é de todo ruim. Ele tem o espírito caridoso. Sua bondosa alma é capaz de levantar fundos no Natal ou chorar de emoção aos sábados vendo o Zé ganhar 10 mil no Luciano Huck depois de passar perrengue durante 2 anos na Rocinha.

O homem de bem... Ele não é capaz de rir de si mesmo. Está sempre atento e de olho pra apontar o erro alheio, de preferência explanando para um terceiro. Ele acusa e julga. É o purgatório incorporado! Ele é do tipo que não suporta contradições, algo que abale seu "incorruptível caráter" e por isso mesmo deixa de enxergar a sua grande contradição: a de que ele é maior sustentador desse sistema que incluí o político, a polícia e o ladrão. Ele é viciado nesse jogo, o ama de paixão, mas jamais conseguiria assumir isto a si mesmo.

Enquanto a serpente? deixa ela procriar...

Cuidado com a versão de homem de bem que você carrega dentro de si.

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