segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Vida Estranha



Vida estranha...
Hora em cima, outra embaixo.
O meio é um mito, ilusão, objetivo.

Será que estou penetrando em seu coração ?
Doce ilusão...

A vida é uma luta constante.
Da euforia de um sábado,
Ao desânimo do domingo.
E até no pulso de um cadáver, a sete palmos da terra, o relógio faz tic-tac.

O tempo vai passando...
As pessoas vão se distanciando...
Os amores acabando...
As novelas recomeçando...
O futebol já parece uma comida sem tempero,
Que mesmo sem gosto, comemos pra não morrer de fome.

...

Mas veja,
As árvores ainda crescem.
Meus cabelos também crescem.
Há lindas mulheres a minha espera.

Que venham novos problemas.
Que vençam outras prestações.
Pare de reclamar dos opostos.
O meio, o centro e o nada estão na morte.

E mesmo que seu time esteja perdendo de goleada,
Campeonato que vem a bola rola outra vez.

Continue na luta, mas não se esqueça:
Esteja onde estiver, como estiver, a estabilidade não existe, é apenas o combustível pra gente continuar lutando para o fim da instabilidade.

(Marcus Paulo Moreira Matias)

domingo, 24 de julho de 2011

Uma carta ao meu primo Eugênio


"Boa Noite, meu caro.
Depois de mais uma soneca, de um dia de sábado, me vem a notícia: O Eugênio está se casando neste exato momento.
No primeiro momento, pensei:
Que bom, ele deve estar se sentindo bem, feliz...
Mas ao olhar algumas fotos de nossa infância, meu coração disparou, minha mão grudou na testa, fiquei perplexo.

...

Realmente, o tempo passa.
Não basta os outros falarem, não basta nem Cazuza dizer que o Tempo Não Pára. É só quando nos ocorrem esses momentos que a gente sente, percebe, que aquele tempo passou...
Com as vistas embaçadas, com o papel molhado de lágrimas é duro dizer:
Infelizmente muita coisa que sonhamos e até planejamos não aconteceu. Os nossos pais ainda são os mesmos, as minhas dúvidas ainda são as mesmas, as tuas certezas também...
A como eu queria voltar naquele tempo em que ao levantar a peneira e vê-a cheia de piabinhas, mesmo que com um pouco de galho, era como se sentir um cara realizado.
Desbravar as matas de um pequeno córrego. Correr atrás da bola. Sentir o fogo daquele fogão à lenha...
Como era bom julgar as atitudes dos nossos tios, nossos pais, nós podiamos fazer isso. Nós eramos puros, tinhamos a ficha-limpa, tinhamos uma vida inteira pela frente...

Mas o tempo passou... e hoje...

Você já tem uma filha. Mora longe. Os nossos pais continuam acreditando que estão certos, eles ainda discutem os problemas de sempre, sempre que tem oportunidade. O video-game está encostado. Será que está tudo gravado numa fita ?
E as nossas cabanas ? Os dias as derrubaram... A tapera velha está caindo, vai cair. O fogo do fogão à lenha, o vento apagou... A nossa pequena ilha no 'córguinho' a mata cercou. As fotos da lolita se apagaram e os bambus que serviam de traves pro nosso gol, secou...
Mas muita coisa ainda está de pé, no seu lugar: O vô, a vó, o fusca, o curral... O córrego ainda se encontra vida, as orquídeas continuam brotando, os peixes ainda caem nas nossas íscas, acho que fomos nós que mudamos, pra melhor, ou pior...

E num clima meio melancólico vou me despedindo... O tempo levou muita coisa, mas nos trará muito mais, como a sua filha, como o seu casamento, por exemplo. Penso que o importante é tentarmos viver o depois como viviamos antes, curtindo os mínimos detalhes, curtindo cada segundo. E que quando acharmos que já sabemos de tudo, que uma pedra voe em nossas cabeças e faça-nos descrer dessa bobagem.

Um brinde a você. Um brinde a sua nova família.

Eu brindo daqui com mais uma dose de sertralina, você brinda daí, com mais uma dose de Deus.

Um forte abraço, nos vemos em breve...

(Marcus Paulo Moreira Matias)

terça-feira, 10 de maio de 2011

Clássico


Bom dia.
Hoje a noite teremos mais um clássico entre Palmeiras e Corinthians. A expectativa de ambas as partes é grande. O local da partida ainda não foi decidido, mas a escalação será a mesma da partida passada.

Mas antes de começar a narrar este jogo, tenho que contar pra vocês como foi o início deste clássico...

... foi em 2004, em Abril ou Maio. Estávamos todos reunidos em casa: meus tios, minhas tias, mamãe, papai, cachorro, gato e também o periquito.

Era a grande final do campeonato brasileiro. Palmeiras de um lado, Corinthians do outro. Estávamos todos sentados, com camisa alvi-verde, terço na mão e fé no coração. E antes que o juiz apitasse o início da partida, a campainha tocou. Era meu vizinho, e pior corintiano...

Meu pai mandou desligar a TV e fingir que não havia ninguém ali, mas minha mãe, que não gostava tanto de futebol e tinha o 'coração mole', abriu a porta e perguntou:

"Boa Noite Sr. Augusto, posso lhe ajudar ?"
"É que a TV de casa pifou e como é final de campeonato, não posso perder nenhum lance da partida." - respondeu o cretino.
"Mas é claro." - disse mamãe.

E antes que minha cara fechasse de raiva por conta da maluquice de mamãe, eis que surge um rosto de menina: olhos brilhantes, boca avermelhada, cabelos castanhos escuros, pele branca e nariz empinado.

"Esta é a minha sobrinha Bruna." - disse Augusto.
"Como ela é bonitinha..." - Comentou mamãe.
Papai não perdeu tempo e comentou:
"Só estraga esse pano de chão que ela está vestindo." (e todos caem na gargalhada...)

O jogo ia começar. Todos sentaram. Os palmeirenses oravam pra Maria, os corintianos pra São Jorge.
Apitou o juiz. A bola estava rolando!

O clima estava tenso. Enquanto todos roíam as unhas olhando pra TV, eu fica olhando pra garota e pensava: Como é que pode nascer uma coisa tão linda assim ? Que pele. Que boca. Que nariz. Devia ter belas pernas. Devia ter belos seios. Devia...

Eu não conseguia me concentrar na partida. Aliás, naquele momento, a partida já não fazia mais sentido pra mim. E digo mais, naquele momento eu faria qualquer coisa pra tê-la em meus braços, trocaria até de time.

...

Há muito tempo que eu não sentia aquilo. Eu precisava conquistá-la. Aquilo seria um verdadeiro título de campeonato.

Fim do primeiro tempo: 0 a 0. O jogo estava truncado, o juiz apitava até pensamento...

Enquanto os homens foram pra varanda, as mulheres foram pra cozinha. Eu fiquei sentado no sofá (como se a garota fosse sentar do meu lado e começar a conversar)...

Eu precisava ir ao ataque. O 0 a 0 não me servia. Foi quando tomei coragem, fui à cozinha é disparei:
"Mãe, vou à padaria buscar uma coca-cola."
"Vá e busque um maço de Marlboro pra mim." - disse ela.

Foi quando enchi o peito, fingi que não fazia tanta questão e perguntei, quase que gaguejando:
"Quer ir comigo Bruna ?"
"Sim. Vamos. Preciso tomar uma ar mesmo..." - ela respondeu.

Respirei aliviado, abri um sorriso e fomos à padaria...

...

Enquanto caminhávamos, eu pensava no que falar, ela me olhava com um semblante calmo e tranquilo, como se nada estivesse acontecendo (o que chegou até a me irritar)...

Depois de cinco minutos sem falar uma palavra sequer, me veio uma coragem súbita. O coração disparou, as vistas escureceram, as mãos ficaram frias, a voz gaguejou, mas consegui falar:

"Vamos sentar um pouco naquele banco ali ? Preciso te contar uma coisa..."
"Não. Acho melhor não." - Ela responde

Meu mundo desmoronou. Ela não quis nem saber o que eu tinha pra falar. Até que ela completa:
- Brincadeira, vamos lá.

Meu mundo se ergueu novamente.

Naquele momento me senti como um cachorrinho. Daqueles que quando o dono briga, fica triste e cabisbaixo, mas quando o dono brinca, abre o sorriso e quase que mija pelas pernas de tanta alegria.

Sentamos no banco. Virei de frente pra ela e comecei a falar...

"Desde que te vi entrando por aquela porta, não consigo prestar atenção em outra coisa. Esses seus olhos, seu cabelo, (Naquele momento com uma mão segurei sua mão esquerda e com a outra fiquei ajeitando seu cabelo por dentro das orelhas e continuei falando...) sua pele, seu sorriso. Sei que é extremamente cedo pra isso, mas eu vou arriscar..."

Beijei a boca dela. Ela retribuiu com sua língua, macia e gelada, que fazia de mim, naquele momento, o cara mais feliz de todos!

...

É, eu tenho que concordar, foi um lindo início.

Do resultado do jogo eu nem me lembro. Posso procurar depois na internet, mas que realmente, depois de ver aquele rosto entrando em minha casa, depois de pegar na sua mão, depois de sentir aquela boca que se encaixava na minha, pude ter certeza que o placar do amor estava aberto.

...

Essa foi a história do início desse clássico, que contando agora pra vocês, me fez pensar:

O que seria do Palmeiras sem o Corinthians ? O que seria do Corinthians sem o Palmeiras ?

Quando a gente ama não tem preconceito. Não tem maldade. A cor da camisa não importa. E digo mais: Se não tivesse o adversário do outro lado do campo, a partida perderia todo o sentido... (Será que é por isso que Deus deixou o diabo... deixa pra lá).

Agora deixa eu correr pro aquecimento. A partida já vai começar. Lembrando que hoje, os times vão jogar sem camisa e sem bermuda, mas entrarão em campo com o coração e o tesão, tesão o qual, sem o adversário do outro lado do campo, jamais existiria.

(Marcus Paulo Moreira Matias)

domingo, 24 de abril de 2011

Rotina


Cansado da mesmice de sempre, resolvi, um dia desses, ainda na cama, que naquele dia eu faria diferente...

Despertei rapidamente e tratei de pôr o pé esquerdo no chão, afinal de contas, essa história de acordar com o pé direito nunca deu certo mesmo.

Não arrumei a cama e não fiz questão de virar os chinelos e colocá-los lado a lado. Eu queria mudar, testar algo novo. No café da manhã, em vez de pingado, tomei pinga. O nome é parecido, mas o efeito é muito diferente...

Desisti de ir de ônibus e resolvi que ia ao trabalho caminhando. Com óculos escuros e uma camisa verde-limão eu estava pronto pra diversão.

Passando pela praça da matriz, resolvi conversar um pouco com os mendigos. Papo vai, papo vem, peguei um pito emprestado com um deles e sai fumaceando pela rua afora.
Aquilo estava demais, aquilo era coisa de maluco, aquilo estava fugindo completamente dos meus padrões...

Passando em frente ao escritório de contabilidade, já próximo do meu trabalho, resolvi falar com àquela moça bonita que recepcionava os clientes e sempre que me olhava tratava logo de ajeitar o cabelo.

"Bom dia." - Eu disse.

"Bom dia, posso-lhe ajudar ?" - Ela respondeu perguntando.

"Pode sim. Preciso falar com o gerente dessa espelunca." - Respondi.

Ela, com olhar de espanto, disse:

"Só um minuto, por favor."

E nisso saiu andando para dentro do escritório...

Peguei sua caneta, rasguei um pedaço de papel de sua agenda e anotei um recado, que dizia:

"Pra quê deixar pra amanhã o que se pode fazer hoje ? 7413-9986."

Sai correndo e me escondi atrás de uma árvore e pude vê-la sorrindo e guardando meu bilhete no bolso de sua calça.

Me empolguei, mas percebi que estava atrasado pro trabalho... Atrasado o cacete! Resolvi chegar fora do horário. Passei na padaria e comi pastel com coca-cola e depois do terceito arroto me bateu um "peso na consciência". Eu precisava inventar uma desculpa pra esse atraso...

Chegando no trabalho, fui logo sendo indagado pelo patrão:

"Isso são horas ?"

"É que o ônibus quebrou, tive de vir caminhando..." - respondi.

Depois de me olhar com aquela cara de que "não acredita, mas tem que aceitar", virou as costas e foi pra sua sala. Percebi então que uma mentira bem contada é muito mais bem aceita do que a verdade mal contada.

Já trabalhando, resolvi acessar à internet e entrar numa sala de bate-papo... Quem iria acreditar que eu, depois de vinte anos de empresa, fosse passar a manhã toda na internet passando informações falsas na rede? Nem eu estava acreditando naquilo...

No almoço resolvi comer de tudo um pouco, até jiló entrou na mistura. Queria sentir coisas novas, queria reinventar meu dia, queria algo diferente pra mim.

Na segunda parte do expediente, ao invés de comprar novas mercadorias pro estoque, resolvi ir numa loja de informática e comprar um computador mais novo. Precisava de um mais atualizado, rápido e sem frescuras, afinal de contas, já faziam três anos que eu usava a mesma porcaria.

Fim do expediente! Na verdade, ainda faltavam cinco minutos pras cinco, mas resolvi ir embora mesmo assim. Precisava ir correr em volta da praça. Há mais de cinco meses que eu não corria...

Depois de correr, já em casa, sentei no meu trono e comecei a evacuar e pensar... pensei muito, mas um pensamento destacou-se:

Pra quê comer se eu vou cagar depois ? Pra quê levantar se depois eu vou deitar denovo ? Mas depois da primeira remessa de merda afundar nas águas rasas da privada esse pensamento sumiu e ver as ofertas do dia do jornalzinho do supermercado parecia ser mais interessante...

Depois disso, peguei o celular e mandei uma mensagem pro meu colega:

"Hoje eu vou jogar truco com vocês!"

E não deu outra. Joguei truco e bebi cerveja a noite toda, chamei até a mãe dele de marreco.

Ao chegar em casa, acendi mais um cigarro e antes que meus olhos fechassem de sono, olhei meu celular e não vi nenhuma chamada perdida e nenhuma mensagem recebida...

Entre "pescadas" e bocejos, concluí que apesar de mudar a minha rotina, meu saldo bancário continua o mesmo, meu carro continua quebrado, meu cabelo continua enrolado, meus olhos ainda são castanhos, meus amigos ainda são os mesmos, a vida continua a mesma: sem sentido.

Talvez mudar a rotina não mude nada.




...




Até que sou acordado por um barulho estranho. Era uma mensagem nova no celular, que dizia assim:

"Passa aqui amanhã pra falar com o gerente... :) Bruna."


...


Pensei melhor: talvez mude sim.

Então fechei meus olhos e dormi acreditando que era um cara feliz.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

O que devemos levar a sério ?


São 3 horas da tarde. Sentado na mesa do escritório do trabalho, me vem um pensamento:
O que realmente devemos levar a sério ?

As lições de vida do patrão ?
As saudações dos clientes ?
Os agradecimentos dos fornecedores ?

Sabe, às vezes, tudo fica tão sistematizado. Às vezes tudo fica tão falso e careta. Ou será que é o efeito do antidepressivo que está passando ? Ou será ainda que tudo isso se passa porque não tenho a gostosa do bairro e o carro do ano ?

...

Coloco Beatles pra tocar... O refrão de 'From Me To You' levanta até defunto, mas será que devo levar esse momento a sério ? Como tudo pode voltar a fazer sentido em 35 segundos ? Não há bipolar que supere esse recorde.

...

Depois de algum tempo, já na rua, passando pela igreja, sinto um enorme medo: Será que estou no caminho de Deus ? Ou será que nem devo levar isso a sério ?

...

São tantas as questões. São tantas as situações. São tantos os momentos. São tantas as emoções, né Roberto ?

...

Acho que estou levando muito a sério essa questão de levar ou não as coisas a sério...

Enfim, me vem um pensamento que me conforta:

Na hora de cagar, tudo faz sentido!

(Marcus Paulo Moreira Matias)

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Maria!


Ando pensando no tempo em que passei ao lado de Maria...

Maria, sim, que era mulher de verdade!

Me lembro das manhãs em que Maria me acordava para ir trabalhar. Com um beijo macio e ainda seco me acordava e com o odor que saia de tua boca me despertava. Nem os passarinhos, nem o galo, o bafo de Maria era como uma injeção de adrenalina em minhas veias. Era mais do que acordar, era despertar do sono pronto pra labuta.

Depois de acordar, Maria me preparava um pão com manteiga e um cafézinho. O pão ficava encharcado de manteiga. O cafézinho também não era lá aquelas coisas, mas só de vê-la se empenhando para fazer o café já era suficiente para me fazer sentir o melhor homem do mundo.

Após cinco horas de trabalho debaixo de sol quente, pegava minha marmita e ia almoçar. Apesar de sempre ficar com a pulga atrás da orellha, pelo fato de Maria sempre insistir pra eu levar marmita ao invés de ir almoçar em casa, comia minha marmita como se fosse o último prato de comida do mundo, chegava até me emocionar entre uma colherada e outra.

Enfrentar 12 horas de trabalho por dia não era fácil, mas só de saber que ao chegar em casa iria encontrar minha Doninha, toda orgulhosa do marido que tem, já me dava ânimo pra colher até o fim do dia.

Sempre quando o ônibus ia se aproximando de casa eu ouvia um som de carro velho partindo, bem lá no fundo do horizonte, ficava tão encucado que pedia pro motorista parar o caminhão que ia eu correndo a pé mesmo, vai que eu pegava o 'sujeito' pelas costas. No final das contas, a única coisa que conseguia era ouvir Maria, que sempre estava no banheiro essa hora, reclamar da minha encucação. O que me deixava mais encucado era que ela nunca explicava o barulho de carro, sempre mudava de assunto.

Maria era toda sistemática, todo dia, antes da janta e na hora que eu chegava, sempre estava no banheiro, e pensando bem, até que é uma boa tática, você esvazia pra depois encher denovo. Mas o que mais me impressionava era como o cheiro do pum de Maria era tão fedido, parecia até que tinha comida estragada em casa, uai. Como era possível sair uma coisa tão fedida de uma moça tão bonita ?

Depois, já de banho tomado, Maria ia finalmente jantar. Geralmente estava com rosto pálido e o corpo mole. Acho que de tanto limpar a casa a coitada já estava quase discoriando.

Eu sempre tomava banho depois de comer, é que cai tanto raio aqui na fazenda que eu tenho cisma de morrer debaixo do chuveiro. E de bucho vazio não teria chance de sobreviver.

Depois da janta, iamos assistir a novela. Quando a novela ia chegando ao fim, meus olhos já pesavam. Maria repetia várias vezes: Vá dormir Genivaldo, amanhã tem mais um dia de muito trabalho. Não demorava muito e já me fazia cair no sono. Já cheguei até a pensar que Maria colocava um remedinho no suco pra eu beber e dormir. Eu sempre fui meio paranóico. Ficava sonhando que Maria fugia de noite pra ir pra sem-vergonhice, chegava até a ouvir vozes estranhas, tem base uma coisas dessas ?

E assim se repetia todos os dias, tirando o natal e o reveillon, que nós sempre faziamos algo especial. Ah... deixando de fora também os dias, ou melhor, as noites, em que a gente fazia aquilo. Você sabe né ? Aquilo que todo casal faz. Pra ser sincero, Maria nunca foi boa de cama, acho que ela não gostava muito da coisa, tanto que nunca tivemos um filho, mesmo depois de 5 anos casados.

Maria se foi faz um ano, e o pior de tudo é que perdi meu irmão ao mesmo tempo. Dorico, meu irmão, perdeu o controle do seu fusquinha 67 e bateu de frente com um camnhão de leite. Os dois estavão indo ver os exames de Maria na cidade. Sabia que o acidente foi tão grave que chegou a explodir o fusquinha e queimar os dois vivos ? Maria e Dorico viraram cinzas. Nem pude vê-los sendo enterrados.

Maria não merecia morrer assim. Ainda repito todos os dias lá nos cafézais de São Gotardo:

Maria, sim, que era mulher de verdade!

(Marcus Paulo Moreira Matias)

domingo, 17 de outubro de 2010

Que horas são ?


Pô bixo!
Tu já parou pra pensar ?
Tem relógio de parede.
Tem relógio de pulso.
Tem relógio digital.
Tem relógio analógico.
Tem o relógio dos cristãos.
Tem o relógio dos índios.
Tem o relógio do meu avô que também é da minha vó.

Sinceramente,
To começando a achar que tem pouco tempo pra tanto relógio.

Acompanha o raciocínio:

Se cada relógio marca uma certa hora, qual é o relógio que marca a "verdadeira" hora exata neste momento ?

Qual e o "relógio-mestre" ? E se ele estiver errando em sua contagem do tempo. E mesmo se todos os relógios marquem a mesma hora, dá pra confiar ?

E digo mais: Nenhum relógio marca a "verdadeira" hora exata, afinal de contas, a hora e os minutos podem estar iguais, mas e os milésimos, os milionésimos, os mi... mi... de segundo ??

Nenhum relógio marca a hora certa. Nenhum relógio marca a mesma hora que o outro. Cada relógio marca uma hora, que pra quem vê será a hora correta.

...

E mesmo que acertem todos os relógios do mundo, SEMPRE VAI TER UM PRA CONTRARIAR!

(Marcus Paulo Moreira Matias)


... "Mãe, ficou bom o texto ? Ficou. Só faltou o relógio do patrão, que sempre acha que nós estamos atrasados."